Política
Miguel Coelho recebe doação financeira de empresário envolvido em crime de escravidão, revela jornalista
O candidato a governador Miguel Coelho recebeu doação financeira de campanha de um empresário envolvido em esquema de trabalho análogo à escravidão. Segundo reportagem publicada pelo jornalista Leonardo Sakamoto, do portal UOL, nesta quinta-feira (22), o postulante do União Brasil foi favorecido pela quantia de R$ 250 mil repassada pelo empresário do setor do agronegócio Emival Caiado. Além de Miguel, seus irmãos Fernando Bezerra Filho e Antônio Coelho, que disputam a reeleição para os cargos de deputados federal e estadual, respectivamente, também foram beneficiados por contribuições que totalizam R$ 350 mil, doados por Emival. Em julho, o senador Fernando Bezerra Coelho, pai dos três, solicitou ao ministro do Trabalho, José Carlos Oliveira, “‘a possibilidade de análise e retirada’ de uma fazenda pertencente a Emival Caiado da ‘lista suja’, o cadastro reúne empregadores responsabilizados por condições análogas às de escravo”.
De acordo com a reportagem, o senador Fernando Bezerra Coelho apresentou a solicitação, por meio do ofício 189/2022, no dia 13 de julho, junto ao Ministério do Trabalho. No documento, FBC, como o líder do clã Coelho de Petrolina é conhecido, atesta que o pedido de retirada da propriedade de Emival Caiado da “lista suja” se deve ao “termo de ajustamento de conduta já firmado pelo fazendeiro com o Ministério Público do Trabalho, multas quitadas, e problemas, sanados”, segundo o jornalista. Bezerra Coelho foi líder do governo Jair Bolsonaro durante quase três anos, deixando o posto no final do ano passado.
Trinta e três dias após a solicitação de FBC junto ao Ministério do Trabalho, o empresário Emival Caiado repassou as doações oficiais para as campanhas de Miguel, Fernando Filho e Antônio, que totalizam R$ 600 mil. As três contribuições foram registradas, como mostra o site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A intervenção do senador, entretanto, foi negada pelo ministério. “Questionado pela reportagem sobre o ofício, o ministério explicou, nesta quarta (21), que a demanda foi analisada pela área técnica e que ‘não há fundamentação legal para retirada’ com base nele. E reforçou que ‘não há qualquer ilegalidade na inclusão do nome do empregador em apreço no referido cadastro’”, destaca a reportagem.
A reportagem informa que os nomes do empresário Emival Caiado e da fazenda Santa Mônica, dedicada à criação de gado, foram incluídos na lista suja do Ministério do Trabalho em agosto de 2010, após uma fiscalização realizada pelo grupo especial formado pela Inspeção do Trabalho, Ministério Público do Trabalho e Polícia Rodoviária Federal que encontrou 26 trabalhadores em condições análogas à escravidão na propriedade. Segundo a matéria, “a maior parte estava alojada em barracos de lona sobre o chão de terra em pontos isolados da propriedade, sem acesso à água potável, energia elétrica, leitos, banheiro ou alimentação suficiente para as suas necessidades”.
“As ferramentas de trabalho e o combustível das motosserras eram descontados da remuneração dos trabalhadores, que também não recebiam equipamentos de proteção. Parte teve seus documentos retidos e não descansava nem aos domingos. Registros de jornadas apontavam para mais de 13 horas por dia”, revela a reportagem.