Cultura
Irmãos Helton & Vertin lançam “Artista”, primeiro álbum da dupla
Artistas pernambucanos trazem no trabalho autoral 11 músicas com sotaques do Sertão nordestino que são pura poesia
“Artista”, primeiro álbum dos irmãos Helton & Vertin lançado em parceria no dia 15 de janeiro deste ano, apresenta composições existencialistas que dialogam com temas da sociedade. No trabalho autoral, composto por 11 faixas cosmopolitas, “Os Moura”, como são conhecidos, representam o lugar deles, o Sertão brasileiro, especialmente pernambucano e baiano, trazendo sotaques e projeções das vozes, além de letras tratadas como poesia.
“Os caminhos que percorremos em nossa estrada somaram para a realização do álbum. As vivências no Sertão, com a calmaria de uma cidade interiorana pequena, e também em cidades grandes caóticas mexeram com a arte da dupla. As composições de ‘Artista’ retratam assuntos de cunho universal, do ser humano, da existência, de si e do outro”, afirma Helton. “É um trabalho com caráter antropológico e político-social e que contém influência de tudo do mundo que nós dois vivenciamos até aqui”, pontua Vertin.
Há quase uma década, Vertin participou do primeiro trabalho da carreira do irmão, “Helton Moura e o Cambaio”. Agora, eles produziram lado a lado um álbum que tem compromisso histórico com a música brasileira, pois não se nega à verve da canção da MPB.
“A gente soma juntos quase 70 anos. Vertin, natural de Juazeiro/BA e radicado em Arcoverde (Sertão de Pernambuco) tem 30, enquanto eu, com 39, nasci em Arcoverde, mas vivo na Região Metropolitana do Recife”, destaca Helton.
O álbum completo foi gravado com as participações do pernambucano Juliano Holanda, que divide a letra “Depois do fim” com Helton, do baiano Tuzé de Abreu na flauta (música “Tudo é o melhor”), do poeta baiano Nelson Maca na composição/voz da faixa “Nossa feiura bendita”, de Amanda Ferraresi (natural de São Paulo) no violoncelo (canção “Agora Aguenta”) e do cearense Joaquim Izidro, parceiro na composição “Cuide-se” com Vertin. A produção de “Artista” passou por Arcoverde, Recife, Aldeia dos Camarás e São Paulo, sendo realizada do início de dezembro de 2018 até o mês de junho de 2020.
Vertin evidencia que “Artista” tem um conceito dependente dos/as amigos/as. “A gente sempre diz que é artista independente, mas digo agora que somos artistas dependentes. Dependemos uns dos outros. Esse álbum partiu disso mesmo”, declara. “O trabalho foi produzido com o apoio da família, dos amigos e das amigas, além de gravado em nossas casas”, reforça Helton.
O álbum conta com uma variação sonora: rocks, baladas, frevo, ijexá medieval, axé, toré, música erudita/clássica. O caráter cosmopolita compete à sonoridade diversa e a poesia existencial. “As diversas influências rítmicas presentes nas músicas de ‘Artista’, a partir da inserção de diferentes elementos, dão uma formação sonora mais próxima das bandas de rock”, comenta Helton. “A base rítmica das faixas varia e os elementos utilizados estão associados à música pop”, completa Vertin.
“Resista”, um dos singles do álbum, foi lançado no dia 18 de dezembro do ano passado, com um clipe. Produzida durante a pandemia, a música trata de problemas históricos de ordem social, ética e política, sendo considerada um mantra da resistência do trabalhador autônomo e do artista neste mundo. A ideia surgiu justamente das angústias do século 21 sentidas pelos irmãos Moura.
*Carreiras*
Na trajetória musical, os Moura dividiram experiências com artistas como Lirinha, Almério, Flaira Ferro, Juliano Holanda, Marcelo Jeneci etc.
Helton Moura tem uma carreira recheada de vivências artísticas. Como ator, reúne apresentações no espetáculo teatral “Federika: o Arlequim Guerrilheiro”, de Jomard Muniz de Britto, e no recital de lançamento do premiado livro “Geografia íntima do deserto”, de Micheliny Verunschk. Ele ainda montou a performance “O observador e nada”, além de respirar o cinema, protagonizando o premiado curta “Tá moco, é?”, de Daniel Monteiro, exibido no Cinema São Luiz no Festival de Vídeo do Recife em 2010.
Helton carrega um currículo musical de quase 20 anos. Seu primeiro álbum saiu em 2011. No ano de 2015, participou do show do cantor pernambucano Almério, no Abril Pro Rock. Em 2017, lançou dois trabalhos nas plataformas digitais: “EP Círculo” e “Círculo – ao vivo”. Já em 2018 e 2019, integrou a da Mostra Contemporânea Reverbo (cena da música autoral e coletiva pernambucana).
Já Vertin Moura iniciou a trajetória artística nos anos 2000, no Teatro da Estação da Cultura (em Arcoverde), que curiosamente teve a participação de Helton na ocupação. O projeto foi realizado por artistas locais que criaram o grupo de teatro “A Gente Construindo”. Em sua estreia na música, esteve ao lado do irmão, fazendo parte da banda Helton Moura e o Cambaio, que em 2011 lançou o álbum “Maquete Sonora”. O ano de 2012 marcou a chegada do seu primeiro disco, “Filhosofia”. Em 2013, recebeu da imprensa pernambucana o prêmio de destaque/revelação do Festival de Inverno de Garanhuns.
A passagem de Vertin no teatro da Estação da Cultura em Arcoverde e a vivência com grupos contemporâneos Cordel do Fogo Encantado, Samba de Coco Raízes, Cobaias do Sisal, Maria Joana, entre outros, foram cruciais para ele virar ator. Em 2020, inclusive, foi protagonista do longa aclamado pela crítica especializada “Sertânia”, dirigido por Geraldo Sarno. Já atuou também em peças de teatro, filmes e séries, como “Big Jato” (direção de Cláudio Assis), “Marighella” (de Wagner Moura) e a 2ª temporada da série “3%” (Netflix).
Fotos: João Guilherme