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Cepe Editora lança em Afogados da Ingazeira quatro novos títulos da Coleção Pajeú

Cultura

Cepe Editora lança em Afogados da Ingazeira quatro novos títulos da Coleção Pajeú

A Cepe Editora lança neste domingo (13), às 17h, durante a 2ª Feira da Poesia do Pajeú, acontece na Praça Monsenhor Alfredo de Arruda Câmara, Afogados da Ingazeira, os novos títulos da Coleção Pajeú – criada para evidenciar a produção literária da região. Mais um matulão na praça, de Paulo Monteiro; Respingos de saudade, de Aprígio Jerônimo Ferreira; Entre a feira e o teatro, de Cícero Renan Nascimento Filgueira, e o cordel O debate de Cristo Cirineu com Benito Messias Mussolini, de Felipe Amaral, foram selecionados pelo Conselho Editorial do Pajeú – grupo formado por poetas e intelectuais dos municípios que integram o Sertão do Pajeú.

Em Mais um matulão na praça, Paulo Monteiro faz uma coletânea de seus versos humorísticos sobre paixão, amor, saudade, sertão, cantoria e homenagens. São 284 páginas de poemas escritos entre 2015 e 2019. No poema introdutório, Paulo dá a pista: já havia publicado um Matulão de poesia, em 2013. “Voltei feliz novamente/ Tentando agradar meu povo/ Com mais um trabalho novo/ Tirado da minha mente./ Acho que ficou mais quente/ Do que brasa de São João…/ Mas não tenho a intenção/ De crescer nem me mostrar;/ Meu sonho é você gostar/ Do Segundo Matulão.” Para quem não sabe, matulão é um saco onde os retirantes carregam seus pertences. 

Nascido em Tabira, Paulo Monteiro, 56 anos, tem três filhos, todos poetas como o pai, que foi influenciado pelo irmão do famoso, Dedé Monteiro, conhecido como o “Papa da Poesia”, detentor do título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Desde jovem, Paulo escreve essa poesia repleta de humor e alegria. Também é pandeirista, triangueiro e zabumbeiro. “Paulo diz o que vive e vive o que escreve. É poesia em carne e osso, em sentimento e espírito”, escreve a poeta Isabelly Moreira, de São José do Egito, em texto que assina na obra.

“É peba, é tejo, é tatu,

É tatu, é tejo, é peba,

É corte, é talho, é pereba,

É vinho, é brahma, é pitu,

É palhaço, é papangu,

É papangu, é palhaço,

É lampião, é cangaço,

É leite, é queijo, é coalhada.

Quem tiver língua travada

Não faz do jeito que eu faço” (Trecho do poema Língua Travada) 

Respingos – Com 88 páginas, Respingos de Saudade é o segundo livro lançado por Aprígio Jerônimo Ferreira, poeta pernambucano de 94 anos, natural de Brejinho. Nos versos que compõem o título, carregados de emoção, ele recorda os pais e os irmãos já falecidos, remete ao dia a dia sofrido do homem do campo e relata as dificuldades dos sertanejos que migram atrás de melhores condições de vida em outras regiões do Brasil, como ele mesmo fez aos 20 anos de idade.

“Onde estás, Mussambê, torrão querido, memorável berço das minhas façanhas”, escreve Aprígio Jerônimo no poema Nossas Raízes, ao falar do lugar onde nasceu. A mudança para o Rio de Janeiro e depois para Brasília – ele trabalhou como encarregado de carpintaria na construção da capital federal – é contada no verso Meu Diário: “Levava o cheiro da terra/Do meu sertão alcantil,/ Jovem rústico e primitivo,/ De aspecto juvenil,/ Mas carregava o desejo/ De conhecer meu Brasil.”

Diferente dos outros livros da coleção, Entre a feira e o teatro: as práticas culturais dos repentistas em Pernambuco (1900-1948), do historiador de Tabira, Cícero Renan Nascimento Filgueira, é fruto de uma pesquisa de mestrado defendida em 2017, na Universidade Federal Rural de Pernambuco. A obra traz um estudo sobre os cantadores de viola da primeira metade do século passado. “Ao dedilhar a viola, o repentista faz uma representação do mundo através da declamação. Um mundo por vezes escuro, triste, como se a mágoa eterna o tocasse. Por vezes, um mundo repleto de aventuras, de bois fantasiosos que falam e sentem como gente, às vezes mais do que as pessoas”, descreve Cícero, comparando o ofício do violeiro com o do historiador. 

“Assim como os cantadores, (o historiador) faz representações do mundo em seus textos: mundo parcialmente representado nos documentos que contam uma história fragmentada, como uma estrofe sempre a ser concluída. Logo, pode-se entender que o historiador está fadado a escrever uma história pelos retalhos deixados nas linhas, ou melhor, entrelinhas dos fatos registrados ao longo do tempo”, compara o pesquisador, que iniciou seus estudos a partir de três folcloristas, o paraibano José Rodrigues de Carvalho (1867-1935), o cearense Leonardo Mota (1891-1948), e o potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Seu trabalho também se preocupa em responder como as tradições nos sertões dos folcloristas chegaram ao palco dos teatros das capitais. Para tanto, Cícero pesquisou autores como Pierre Bourdieu, Roger Chartier e Carlo Ginzburg. 

Pernambucano de Tabira, o poeta cordelista e militante da causa operária Felipe Amaral, disse que se inspirou nos “dias escuros em que vivemos” para escrever o cordel vencedor  O debate de Cristo Cirineu com Benedito Messias Mussolini. “Queria focar muito na questão da hipocrisia e a retórica do engano, de como as pessoas podem ficar em um estado de alienação.O cordel trata de um tipo de escravidão na qual o escravo fica cego e agradece a quem o escraviza o estado em que se encontra e toda a maldade que está por vir”.

O cordel apresenta dois personagens Cristo Cirineu (profeta peregrino e visionário a caminhar pelo Sertão e que tem seu nome inspirado em  Simão Cirineu, homem que ajudou Jesus Cristo a carregar a cruz em seu calvário, revelando empatia e solidariedade) e Benito Messias Mussolini, um messias que, como destaca o autor, carrega em si a hipocrisia e a ardileza:

“Dizia a sua canção

que no ano rudimentar 

De dois mil e dezenove
uma besta cavalar
Reinara naquela terra

com a força militar.

O seu nome popular
Como o do ídolo cristão

Fazia ele angariar
De todos aceitação
Bem como o seu grande apelo
Voltado para à religião.

Era um “Messias” que o Cão,
Na terra, achou de botar.
‘Benito’, mas não bendito, 

Embora um povo vulgar
Julgasse ser; e o louvasse
Até diante do altar.”

Visibilidade – “A preocupação na seleção das obras vencedoras foi possibilitar aos autores do Pajeú concorrer em um edital exclusivamente voltado para a região. Queremos,  com a Coleção Pajeú, dar visibilidade à produção cultural não apenas na literatura, mas em todas as áreas do conhecimento humano”, destacou o coordenador do Conselho Editorial do Pajeú, professor Marcos Roberto Nunes Costa. Eleito para o biênio 2021-2023, o colegiado é formado ainda pelos pelos poetas Gislândio Araújo dos Santos (Brejinho), José Adalberto Ferreira (Itapetim), Alan Miraestes (São José do Egito), Fernando Erb Marques Barros (Tuparetama), Genildo Firmino Santana (Tabira) e Wellington Gibson Severo Veras (Ingazeira). 

Com esses novos títulos, a Coleção Pajeú – única em proposta -, contará com nove obras. Já foram lançados os livros Mesa de Glosas (reunindo as improvisações do participantes das Mesas de Glosas da 1ª Feira de Poesia do Pajeú, realizada em São José do Egito-PE em 2019); Meu Eu Sertanejo, de Henrique Brandão; O Poeta dos Vaqueiros,  de Pedro Amorim; Obras Poéticas, de Dimas Batista e Redes de Poesia, de Andrade Lima, lançados em 2021, na cidade de Itapetim. 

Serviço

Lançamento coletivo dos títulos da Coleção Pajeú 

Onde: 2ª Feira da Poesia do Pajeú – Afogados da Ingazeira
Quando: 13.11, domingo

Horário: 17h

Local: Praça Monsenhor Alfredo de Arruda Câmara, Afogados da Ingazeira

Preços dos livros:

Mais um matulão na praça: R$ 35,00 (impresso) e R$ 14,00 (E-book)

Respingos de saudade: R$ 20,00 (impresso) e R$ 8,00 (E-book)

Entre a feira e o teatro: R$ 45,00 (impresso) e R$ 18,00 (E-book)

Cordel O debate de Cristo Cirineu com Benito Messias Mussolini: R$ 2,00 (impresso)

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