Política
Coluna JPS – Politicando
Edição n° 02 – Sábado (06) de novembro de 2021
MORO E A TERCEIRA VIA
O amigo Chico Galindo dias desses me enviou um meme numa hipotética manchete de jornal ” Homem pula em lago para fugir de abelhas e morre atacado por piranhas.” Essa alegoria expressa exatamente o sentimento e o dilema que angustia um importante conjunto de eleitores ao se depararem com dolorosa tarefa perante a aridez de opções: escolher entre Lula e Bolsonaro. Claro que ainda falta um enorme espaço de tempo para as eleições, mas, dificilmente se vislumbra um cenário onde ao menos um dos dois esteja fora do segundo turno, se este houver. Certamente as eleições presidenciais do próximo ano carregam momentos excepcionais que carecem alguma possibilidade de surpresas ainda maior que outras recentes, desde o acidente de Eduardo e a facada do Adelio.
Segundo o projeto Navigator, do pesquisador Maurício Moura, o potencial de votos da terceira via supera a metade do eleitorado. Numa amostra de 1.500 entrevistas, as pessoas foram perguntadas se gostariam de votar em alguém que não fosse Lula ou Bolsonaro. Diferentemente de outras pesquisas, porém, ofereceu-se uma terceira resposta, além de apenas ” sim” ou “não.”
O resultado foi o seguinte: 44% disseram “não “, 22% disseram “sim” e 29% disseram, ainda mais enfaticamente, “sim”, muito.
Se surgir um candidato capaz de atrair todo esse eleitorado, esse teria chance de passar pelo 1° turno com os 29% de eleitores convictos e de vencer o 2° turno com os outros 22%. São exatamente os 51% que vale atualmente a Terceira via pulverizada entre vários candidatos. O desafio não será fácil, pois, desde a introdução da reeleição nenhum presidente no exercício do mandato ficou fora de 1° turno ou perdeu uma eleição, contudo existe alguns cisnes negros no horizonte: nunca os dois princípais líderes nas pesquisas ostententaram também maiores índices de rejeição, sem contar que estaremos no período de eleição com uma crise econômica e um forte desemprego ornado por considerável inflação, e também a polêmica em torno da Covid-19.
Talvez animado com essas premissas, tenha o ex Juiz Sergio Moro aceitado o desafio de fazer uma espécie de eleição plebiscitária entre a classe política e os defensores da Lava Jato. Filiando-se ao Podemos no próximo dia, 10/11 e mesmo sem ser oficialmente candidato, residindo nos EUA, o ex ministro da Justiça já aparece em 3° lugar em algumas pesquisas, motivo de já ser alvo de ataques não apenas de Lulistas e Bolsonaristas, mas também de Ciro Gomes, que cabala para si a tarefa de atrair os votos da 3° via. Em política existe o chavão de que ” não se atira pedra em árvore que não dar frutos” e se Moro está sendo desconstruido é de se pensar que cause alguma preocupação em seus adversários.
Numa eleição onde os principais pontuadores contraditoriamente também são os mais rejeitados, não é muito inteligente que ambos se juntem no ódio e na tentativa de destruição de alguém que possa aglutinar essa repulsa a essas mesmas correntes. Resta a espera da fala de Moro no ato de filiação ao Podemos, onde inclusive poderá quebrar o silêncio sobre as acusações de parcialidade nos julgamentos da Lava Jato e também no início de formatação de um discurso que se contraponha ao que ai está e expresse o desejo do universo de eleitores que não querem o que aí está, mas, também não desejam um retorno ao passado. Vamos escutar atentamente.